Sexo, emprego, partidas e chegadas

Partidas

Quem tem vários apetites e gostos múltiplos redunda, invariavelmente, em várias tarefas. Sabemos que a dispersão da atenção em nada contribui para a produtividade e até para o sentido de concretização e realização.

No entanto, quando alguém consegue ter o “toque de Midas” da organização e desde que se permita um pouco de ousadia, os resultados podem ser impressionantes.

Os primeiros passos de algum empreendimento são determinantes, sem dúvida, mas coincidem inúmeras vezes com os últimos. Todos conhecemos gente que se inscreveu no ginásio e não o frequenta; todos temos um amigo que disse que ia emagrecer, mas cuja francesinha que tem agora diante si é devorada sem dó nem piedade; todos temos alguém na família que jura a pés juntos que vai começar a poupar e investir, para de seguida nos enviar a foto do seu novo carro comprado a crédito.

Todos nós – sim, mesmo que sejamos empreendedores – já demos primeiros passos que ficaram pendurados na falta de seguimento. É algo universal.

Contudo, contrariável.

Chegadas

Segundo Freud, todos buscamos o prazer. O problema duma era tão rápida como a nossa é baralhar-nos a razão pela qual devemos sentir prazer.

Tenhamos como exemplo o sexo, algo que acredito todos vocês gostem tanto quanto eu. Não é tudo orgasmo, não é tudo pelo fim. É o toque, a pele, a maciez de veludo que encontramos nos mais recônditos espaços, o caminho, a procura, a partilha…

Poderia enumerar centenas de sensações, acções e expressões e seria curto. No que todos concordaremos é que o orgasmo é tanto melhor quanto melhor for o caminho.

No emprego, muitos deixam salários chorudos por falta de motivação de outra ordem. Se o primeiro passo (ter aquele cargo) ou o último (receber aquele salário) fossem suficientes, todos os que ocupam cargos superiores e ganham bem estariam realizados.

As crianças fazem isto melhor do que nós. Não querem só contar aos amigos que estiveram num carrocel, nem de ter fotografias para dizer que estiveram numa praia paradisíaca. Elas sorriem durante a viagem de carrocel e constroem castelos na areia da praia, castelos que caem amiúde até um deles resistir.

Para as crianças, como no emprego, no sexo e em tudo o resto, também há sempre um destino, mas o que conta é a viagem.