Ler é uma das formas mais bonitas de viajar. Somar as duas actividades é viajar ao quadrado. Sentir o poder das palavras enquanto se vive a propulsão dos motores, a força gravitacional que nos impulsiona, dentro e fora, para um destino que é tanto físico como etéreo.
Voando mais, leio mais. Há mais tempo sentado, menos solicitações do mundo moderno, mais tempo a sós.
Nunca estou sozinho. Os livros sempre foram a minha maior companhia e o meu caminho preferido para o cumprimento de desígnios que acredito serem só meus.
Por isso, hoje relevo Hermann Hesse e o seu Uma Biblioteca da Literatura Universal.
Ler é uma actividade superior. Como em todas as faces superlativas da existência humana, nem todos os seus praticantes são merecedores dessa designação. Há quem leia sem saber ler.
Daí que proliferem as palavras superficiais, mais líquidas do ponto de vista quer da sua consistência quer do lucro.
Hesse fala disso e de muito mais. De como seremos leitores diferentes em fases diferentes da nossa vida, de como podemos viver dentro e fora dos livros mas sempre através da leitura, de como somos muito mais humanos quando lemos do que quando deixamos despercebidas as palavras que a História nos deixou.
Fala ainda da liberdade. Renuncia aos intelectualismos de quem afirma que só lendo os clássicos se existe enquanto leitor, aproveitando para os sublinhar como obras notórias e dando liberdade ao leitor, como entidade, para que faça a sua própria coleção.
Não esquece a consciência. Cita o esforço que é necessário para crescer com os livros que lemos, surpreende-se com os nomes que, outrora desaparecidos, renascem nas mãos das novas gerações que agora os veneram imensamente.
Deste livro, poderiam sair tantos outros quanto interpretações diferentes da arte de ler. Tantos quantos somos enquanto leitores vivos. A sua versão, tão pessoal e íntima, abre-nos as portas à nosso própria essência, para que a agarremos e sintamos com a força que ela procura e merece.
Uma Biblioteca da Literatura Universal é prova de que só escreve quem lê. Só escreve bem quem lê melhor. Hesse é, por isso, um dos eternos leitores da Humanidade e concordaria que também na leitura há sempre um destino mas o que conta é a viagem.