Competição vs. Cooperação

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Competição é uma palavra muitas vezes conotada com uma atitude negativa. Como a Natureza é mais forte do que nós, a competição é algo inerente ao ser humano. Não lhe podemos fugir e, em última análise, dependemos dela enquanto espécie.
Fazendo parte do processo evolutivo a que todos estamos sujeitos enquanto pessoas, em qualquer das múltiplas dinâmicas da nossa vida, temos de participar na vida activa através dela.
Por outro lado, é indissociável da cooperação. São irmãs, duas faces da mesma moeda, ying e yang do nosso quotidiano.

Treinei jiu-jitsu durante pouco mais de um ano. Fui convidado pelo meu amigo Ricardo Silva a fazer um treino e, quando dei por mim, fazia uma aula de treino funcional antes dum treino de jiu-jitsu logo após uma noite inteira de trabalho. O meu objectivo era unicamente físico, o treino pelo treino. Até que a época das competições se começou a aproximar e, com alguma pressão positiva do Ricardo para participar fiquei reticente.

Foi uma frase do mestre Marcus Santos que selou a mudança de ideias que o Ricardo conseguiu operar em mim. O jiu-jitsu, como experiência muito positiva de superação, mudou certos conceitos da minha vida, mas continuava apenas a ser uma arte para mim. Até que o Marcus nos disse: “Quem diz que não quer competir está a enganar-se. Todos os dias competimos. Competimos por um emprego, competimos por uma promoção, competimos por um lugar mais adiantado numa fila… Estamos sempre a competir.”

Decidi participar no Campeonato Luso-Galaico. Foi a minha única e muito breve competição, porque a vida muda e acabei por me afastar da modalidade.
Curiosamente, depois de decidir competir começou a cooperação. A preparação para um campeonato é feita através de muita interajuda dentro duma academia. Preparamo-nos e ajudamos os nossos colegas a preparar-se para competir contra outras academias através da intensidade e da entrega que damos aos treinos.
Foram estes colegas os que primeiro me testaram e, posso garantir, os que me proporcionaram os combates mais duros e as finalizações mais difíceis para o ego.

O mesmo acontece na nossa vida. Este episódio no jiu-jitsu é a metáfora perfeita para qualquer actividade, nomeadamente para os negócios ou para a nossa vida profissional. Dentro duma estrutura empresarial continuam a existir objectivos pessoais. Um funcionário que quer um aumento, outro uma promoção e outro mudar de sector.
Para que possam cumprir os seus próprios sonhos a empresa tem de se manter funcional e saudável. Para competirem entre si têm de cooperar.

Um ambiente de recompensas através de objectivos funciona exactamente assim. Promete-se um prémio aos mais produtivos, aos “mais fortes”, sabendo que essa competição interna trará impulso para todo o ambiente corporativo, alavancando também os “mais fracos”.

Vendo bem, sob esta perspectiva, este título está errado, porque a competição não antagoniza a cooperação. Competem entre si por um lugar nas nossas vidas, cooperando no nosso crescimento e fazendo parte do nosso progresso.
Porque há sempre um destino, mas o que conta é a viagem.