Qual é a forma certa de viajar? (por Ricardo Alves Lopes)

38631868_10212552814471535_358901455962243072_oConvém referir já: este texto não é propriamente sobre viagens. É uma batalha com que me tenho debatido em muitas questões da minha vida e da sociedade em que vivemos. É sobre o certo e não certo.

Em primeiro lugar, não há uma forma certa de viajar. Isto é a minha tal batalha interna e, mesmo, externa. Procuramos em tudo um certo e, com isso, damos pouco espaço ao incerto, ao improvável e, na verdade, ao incrível. O viajar é apenas mais um exemplo!

Vivemos numa era de colecionadores, mas onde tudo é efémero. Reparam na ironia? Juntar, para rapidamente esquecer. É assim que vivemos. E nas viagens isso reflete-se, também. Com a chegada dos blogs, redes sociais e tantas outras plataformas de partilha muito imediata e amplamente difundível, aumentamos a necessidade de ser incríveis. Precisamos estar alerta e em grande plano a todo o momento, senão o blog de viagens do lado surge mais vezes, com mais destinos, com mais experiências, e ficamos para trás. Sem audiência.

Este padrão de consumo atual, rápido, curto e efémero – propositadamente redundante! – influencia a forma como viajamos. Um fim-de-semana fora na companhia da nossa namorada não pode ser para nos deitarmos de papo para o ar, na areia, com o sol a tostar e o mar a zumbir pequenos assobios de mindfulness na nossa cabeça. Isso é desperdiçar uma viagem. Devíamos aproveitar para conhecer as terras em volta, os monumentos que a cidade oferece e a diversidade da zona, com praia, sim, mas também montanhas e arquitectura clássica. Não é?        

Eu acho que não. Isto é colecionar, à força, momentos. Não é tão boa a sensação de irmos a um sítio, gostarmos tanto, e termos vontade de um dia lá voltar para ver o que falta?

É.

Mas actualmente não aceite. Temos que ir, ver e fotografar. Muito. Bastante. A toda a hora. Aproveitar todos os momentos. Para que a viagem seja realmente incrível é quando voltarmos e contarmos aos nossos amigos, família e conhecidos. Porque lá nem tivemos tempo para saborear uma paisagem, parar numa esplanada, ouvir uma pessoa local a falar ou sentir o sol a queimar. Seja no Algarve, na Indonésia ou na América do Sul.

Mas isto é a forma errada de viajar? Não. Eu já fiz viagens assim que adorei. Só quis que pensassem nisto. Mas, como disse quase no início do texto, não há uma forma certa de viajar. Interessa é que gostemos.