Anitta e a ética de trabalho

20181116082837707861i

A primeira vez que a Netflix me surpreendeu com a vida de um músico foi através do documentário sobre Keith Richards. Por detrás da capa de rockeiro, fumador compulsivo e antigo (?) consumidor de drogas, existe um homem sensível, que pondera a vida segundo os sentimentos e que ama o processo criativo como poucos. Escrevi sobre o seu documentário no artigo Keith Richards e o rock sentimental.

Nos últimos dois dias surpreendi-me de novo e, desta feita, com algo que diz respeito ao Pista de Aterragem.

Nasceu Larissa em Honório Gurgel, uma zona pobre do Brasil. Hoje, é dona de um império musical e atingiu vários tops mundiais com músicas cantadas em português, espanhol e inglês. Partiu do funk brasileiro. Hoje move-se facilmente entre vários géneros musicais.

Anitta já não é apenas a rapariguinha ambiciosa que nasceu em Honório, mas também. É uma marca de sucesso mundial, desejada por muitos, com um toque de Midas musical que transforma tudo em êxito.

Nunca fui um entusiasta da Anitta, mas a minha perspectiva mudou com o documentário que a Netflix produziu sobre a estrela brasileira. Não se trata de uma questão de gostos, porque o que é mostrado no documentário vai para além da pura opinião.

Anitta é um exemplo de ética de trabalho. Cria bom ambiente dentro da sua equipa, mas é exigente com todos os que a rodeiam e diligente em todos os seus compromissos. Com vinte e cinco anos a forma como lidera toda a sua entourage é surpreendente. As opiniões e as lágrimas de felicidade de alguns dos seus colaboradores mostram o poder de influência que Anitta tem.

Ao mesmo tempo que mantém a atitude provocadora e sensual, a artista não se coíbe de doutrinar os seus fãs sobre como devem proceder. Tudo porque também ela tem origens pouco favorecidas e conseguiu chegar até ao estrelato à custa do seu sacrifício.

É inspiradora a forma como se movimentou desde cedo para atingir os seus objectivos. Chegou a dar concertos em cima de grades de cerveja com amigas que ainda hoje inclui em alguns dos seus trabalhos.

Ao longo do lançamento da sua campanha musical Checkmate, Anitta desenvolve relações de afinidade e cumplicidade com produtores musicais de topo que acabam também por se surpreender com a facilidade de trabalhar em conjunto com a brasileira.

Apesar da sua jovem idade, Anitta fala fluentemente as três línguas em que canta, o que não é nada comum para um brasileiro com as suas origens. O seu discurso sobre o caminho percorrido é elaborado e as saídas jocosas sobre o facto do funk brasileiro ser considerado, cito, “música para burros” são utilizadas amiúde.

A sua dependência do trabalho acabou por custar-lhe o casamento. Isso prova talvez duma forma ainda mais contundente o compromisso que Larissa tem com Anitta e o sucesso. A forma presente como gere o marketing, a ideia de lançar um vídeo musical de Checkmate por mês, o videoclip transmitido em directo no dia do seu aniversário com uma produção fora de série e a colaboração com nomes como J Balvin, Alesso, Poo Bear, entre outros, é alucinante.

Não consigo criticar o facto de ser workaholic. Revejo-me de alguma forma na sua forma de querer estar presente em tudo e até na maneira aparentemente descontraída com que aparenta lidar com toda a pressão.

O documentário mostra isto e muito mais em apenas seis episódios de meia hora, mas foi o suficiente para mudar a percepção que tinha de Anitta. Em vários momentos, a semelhança com a atitude minuciosa de Michael Jackson em This Is It salta à vista. Não há detalhe que seja deixado ao acaso.

A viagem de Anitta já conta com vários marcos e quem com ela trabalha afirma que não há destino que a possa limitar. O que é tomara ser tomado como exemplo, porque há sempre um destino, mas o que conta é a viagem.

12 thoughts on “Anitta e a ética de trabalho

  1. Não importa o meio de onde vimos ! Os valores e a ética ja estão lá(ou nao) e acompanham nos para o resto da vida , nao importa quão alto se chegue. Ela é um exeplo sim senhora. Bem escrito!

  2. Devemos saber o que pretendemos e atingir o sucesso(cada um a sua maneira).

    Mas ter noção das bases, raízes e ter a humildade de não ter vergonha de onde viemos.

    Muito bom post!

  3. Não fazia ideia de que havia um documentário sobre ela! Agora fiquei bastante curiosa, até porque gosto de ouvir as músicas dela. Obrigada pela partilha! 🙂

Comments are closed.