A política tem má fama. A culpa é, obviamente, de alguns políticos. Enquanto ciência, a política não pode ser ser negligenciada. É algo inerente à comunidade que todos constituímos. Fazemos política em casa quando estabelecemos regras de comportamento para os filhos; fazemos política quando negociamos algo com o nosso cônjuge; fazemos política todos os dias quando aceitamos algum incentivo no nosso emprego. Nas nossas empresas, fazemos política quando determinamos o caminho da nossa visão, quando cumprimos um objectivo a que nos propomos ou quando chamamos um funcionário à razão.
Todos somos políticos. Ainda assim, alguns têm o péssimo hábito de repudiar a política como se de algo venenoso se trata-se. Essa atitude passiva, que equivale aproximadamente ao silêncio durante uma conversa que não pode ser interrompida, está a criar um caminho de dissabores já percorridos na História.
A discussão política propagou-se em Portugal devido às eleições brasileiras. Jornais, como o Expresso, manifestaram-se claramente quanto à sua posição. Bolsonaro despertou a paixão de uns e o arrepio de outros através da sua inequívoca razão. Ou daquela que ele acha ter, pelo menos.
Defendo a democracia como uma solução politicamente humana de resolver os problemas nacionais e mundiais. Não gosto de ditadores nem de figuras que dizem usar a voz do povo querendo estar acima deste. Não gosto de desaforos políticos ou de gritos histriónicos que alimentam os tablóides.
Manifestei-me publicamente contra a eleição do actual Presidente do Brasil. Como escrevi neste artigo, a evolução da sua persona política recorda-me assustadoramente outras que deram ao mundo uma face cheia de cicatrizes.
Numa das minhas habituais viagens, comprei o livro de Madeleine Albright intitulado Fascismo, Um Alerta. A primeira mulher Secretária de Estado dos Estados Unidos da América, vítima indirecta do fascismo e actual professora universitária escreve-nos sobre a sua preocupação. Não é um ensaio extremamente técnico. É uma colecção de dados que se consubstanciam entre si e que provam que o fascismo é algo que teve início mas que não terá fim.
Durante a leitura tive sensações pouco comuns. Concordância plena em algumas passagens, preocupação estimulada por factos que se somam, esperança de que os sinais sejam lidos conforme no livro. Encontrei nestas páginas ideias que gostaria que a memória não perdesse, como manifestei neste meu discurso.
Madeleine não nos fala de Bolsonaro, mas fala muito sobre Donald Trump. Divide-o dos absolutamente fascistas, mas descreve as características que o Presidente dos Estados Unidos possui que o aproximam dessa corrente. Considera-o legítimo, mas refere-se negativamente ao desrespeito que nutre pelas instituições democráticas.
Madame Secretary não faz dos políticos com comportamento desviantes uma amálgama. Diferencia-os com a nitidez de quem conviveu com muitos e de quem ouviu algumas verdades das suas bocas, apesar de deturpadas em nome do poder.
Mussolini, Hitler, Chávez, Maduro, Erdogan, Putin, Trump e a dinastia Kim da Coreia do Norte são apenas alguns dos líderes dissecados nas suas características quer positivas quer perigosas (sendo, algumas delas, coincidentes).
Um livro claro, lúcido e fruto da experiência política de quem ainda hoje frequenta a esfera do poder com o conhecimento do seu efeito aditivo e corruptor.
Um livro que nos mostra que a humanidade tem um destino que desconhecemos, mas que é também através da política (e da memória) que devemos construir o seu caminho.
Para o Homem há sempre um destino, mas o que conta é a viagem.
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