Preconceitos

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Avião como transporte público

Ultimamente, a minha vida tem sido feita a viajar. Já bati a marca dos cinquenta voos e rapidamente baterei a dos cem. A experiência é extraordinária mas, tendo em conta que o avião é, agora, mais utilizado por mim do que o metro ou o autocarro, há várias descobertas a relatar, factos de que nunca antes me tinham falado.Em primeiro lugar, a desorganização. Há aeroportos realmente desorganizados em cidades centrais da Europa. Há atrasos, confusões, adiamentos e antecipações e vários problemas que se tornam totalmente visíveis para os viajantes frequentes. Neste pormenor, tenho sempre dificuldade em encontrar quem consiga bater o desempenho do Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Meu querido Portugal

Se nisto somos melhores há, por outro lado, um detalhe que é irritante. Viajar com portugueses pode tornar-se doloroso. Talvez pela falta de hábito, menor formação ou apenas um pouco de civilização a menos, podemos encontrar-nos numa situação em que o nosso companheiro do lado não partilha o braço da cadeira, estica as pernas para o nosso espaço, toca-nos sem pedir desculpa, fala alto quando dormimos, etc. No fim, há sempre palmas.

Dói dizer isto, porque o nosso povo é adorável e genuíno, mas ainda tem muito a aprender em relação ao respeito pelos outros dentro dum avião.

Generalização vs diferença

Claro que isto é uma generalização e isso leva-nos a outro preconceito. Quando chegamos a um país com muitos emigrantes portugueses podemos ter duas garantias: todos nos considerarão grandes trabalhadores, à partida, mas também pouco diferenciados, pouco ambiciosos e, por vezes, menos inteligentes.

Como todos sabemos, nem todos somos assim. Há portugueses muito diferenciados, muito capazes, muito inteligentes e, pelo contrário, também há portugueses preguiçosos.

Este tipo de preconceitos pode criar-nos situações estranhas que, em ambiente confinado, como um avião, são tão ou mais constrangedoras que a realidade que relato acima.

Quebrar barreiras

Em suma, temos de ter a consciência de que os preconceitos também sofrem de geolocalização. Além dos padrões culturais, a percepção que algumas gerações anteriores criaram pode influenciar o tratamento que temos hoje. Se não nos rendermos a esses factores exógenos seremos claramente mais proativos e, em consequência, mais objectivos concretizaremos.
Caso deixemos que isso nos afecte teremos o imediato prejuízo pessoal de ficarmos pelo caminho e perpetuaremos essas ideias generalizadas que tanto nos podem incomodar.
Temos de dar abertura aos outros para os percebermos como pessoas e não como cidadãos dum país ou representantes duma cultura. É a interação que dita a reciprocidade, pois a abertura que dermos, grosso modo, receberemos. Também aqui há um objectivo, um fim, mas é o caminho interpessoal que mais importa. Afinal, também entre pessoas há sempre um destino, mas o que conta é a viagem.